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Mel de abelhas sem ferrão ganha mercado na região Oeste do Paraná

A produção de mel de abelhas sem ferrão tem crescido na região por inúmeras vantagens, estando uma delas diretamente ligada ao bolso.

Publicado em 27/10/2020 às 05:49

(Foto: Reprodução)

Indispensáveis ao equilíbrio ambiental e à polinização das plantas, muitas vezes as abelhas são lembradas somente pelo ferrão, devido às doídas ferroadas provocadas por elas.

O que muita gente não sabe é que existe abelha sem ferrão. Sim, isso mesmo. E de uns anos para cá criações têm sido observadas inclusive em municípios do Oeste do Paraná, como Marechal Cândido Rondon, Entre Rios do Oeste, Santa Helena, Toledo e Cascavel.

A produção de mel de abelhas sem ferrão tem crescido na região por inúmeras vantagens, estando uma delas diretamente ligada ao bolso.

Enquanto o produto convencional “fabricado” pela abelha com ferrão remunera em torno de R$ 9,50 o quilo, o valor pago pelo quilo do mel de abelha nativa, sem ferrão, varia de R$ 60 a R$ 120. No entanto, a produtividade é discrepante: se a abelha com ferrão produz 25 quilos por safra, a abelha sem ferrão gera média de dois quilos, dependendo da espécie.

COMÉRCIO INFORMAL

O meliponicultor rondonense Ângelo Valoto, que também é técnico em meio ambiente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e ministra cursos de apicultura e meliponicultura (abelhas sem ferrão), diz que há produtores de mel de abelha sem ferrão nos distritos rondonenses de Novo Horizonte e Margarida, além de outros municípios do entorno, mas são pequenos produtores, sendo que muitos vendem informalmente. “Este mel de abelha sem ferrão não fica à disposição como o outro mel, pois quando alguém sabe, compra e o mel já desaparece”, menciona.

Ele comenta que têm surgido médios criadores em Marechal Rondon, Entre Rios do Oeste, Toledo, Cascavel e Medianeira. “A princípio, eles não estão preocupados com o mel em si, mas com a criação dessas abelhas em um movimento grande. São pessoas com 50, 100 e 200 enxames dentro de cidades como Cascavel, Toledo e Medianeira hoje voltados à preservação e criação das abelhas, mas que no futuro devem entrar na questão da produção do mel”, avalia.

Segundo Valoto, as tribos que integram a meliponicultura são as meliponas e trigonas. “As meliponas são abelhas maiores, como Mandaçaia, Uruçu Amarela, as graúdas. Já as trigonas são menores, como Mirins, Borá e Jataí, boa parte com tendência a serem escuras, pretas. No Paraná são 14 espécies de meliponídeos”, conta.

Hoje, segundo o rondonense, os produtores trazem as abelhas, ampliam os criadouros e estão se profissionalizando. “Vale citar que o manejo é diferente devido ao comportamento, biologia e tamanhos, bem como a área de atuação de coleta do néctar tem outra distância, então tudo tem sua peculiaridade”, expõe, acrescentando: “São abelhas dóceis, que podem ser criadas em jardins, casas, com exceção de uma minoria mais agressiva, porém nenhuma ferroa. É uma atividade particular e interessante porque atrai muitas pessoas devido à diversidade, pois as abelhas podem ter o tamanho de uma cabeça de alfinete até o tamanho de uma mosca grande”.

VANTAGEM X DESVANTAGEM

Valoto ressalta que existe espaço para todas as espécies de abelhas sem ferrão, no entanto as diferenças estão nas características e nos hábitos. “As maiores não vão em flores pequenas e no caso das abelhas maiores sempre resta material no fundo das flores que podem ser coletados pelas abelhas menores, então a competitividade entre as espécies não é algo importante, desde que o produtor plante e esteja em um local com diversidade floral para proporcionar este equilíbrio”, frisa.

O preço, reforça, é maior, mas a produção menor. “Hoje se vende o quilo do mel de Jataí de R$ 120 acima, que é o mel mais ofertado. Já o quilo da abelha com ferrão tem preço de até R$ 20. Em uma colmeia de abelha com ferrão podem ser produzidos 100 quilos, enquanto na Jataí a média é de dois quilos. Entretanto, trata-se de um mel diferente por ser um processo da abelha que agrega produtos glandulares próprios de cada espaço, com textura, sabor e cheiro diferentes. O paladar também pode variar conforme a região e a particularidade”, pontua.

Conforme o técnico do Senar, existe demanda por mel meliponídeo e na região se oferta muito a abelha Jataí, quando em Curitiba e outros centros há espécies como Mandaçaia, Uruçu, Tubuna e Borá. “Há mercado a ser explorado, o que falta é investir nas pessoas, em uma forma de organização para fazer funcionar. A apicultura possui associações e cooperativas, já o caso do meliponídeo é tímido, porém alguns produtores do Paraná têm conseguido selo até para exportar o mel de abelha sem ferrão, ou seja, há um grande futuro”, destaca.

CARACTERÍSTICA

O meliponicultor afirma que a legislação brasileira está mais aprofundada no que se refere ao mel de abelha com ferrão, que deve ter no máximo 20% de umidade. “No caso do meliponídeo há um problema sério nas legislações, com artifícios e propostas de alteração, pois este mel tem média de 27% de umidade. O mel pode ser comercializado, pois os produtos estão sendo legalizados. Hoje é possível tirar excesso de umidade para ter menos problema de fermentação, por ser fácil criar fungo e bactéria”, enaltece.

Uma solução, aponta o rondonense, é vender gelado ou tirar a umidade através de equipamentos, pasteurização ou maturação natural. “Tudo é estudado, pois pode perder característica, aroma e demais propriedades do mel, então se discute o que fazer para preservar as características. Este é um mel medicinal que ajuda a saúde humana e bastante usado pelas populações pobres nas doenças e tem funcionado, mas deve-se ter cuidado com receitas mirabolantes”, alerta.

QUALIDADE

O presidente da Cooperativa Agrofamiliar Solidária (Coofamel), com sede em Santa Helena, Antônio Schneider, enaltece que a região é rica em meliponídeos. “Temos pequenos produtores nos municípios que estão se profissionalizando com a busca de técnicas e novos conhecimentos, e nesse caso a região se destaca pela qualidade deste mel, com predominância da abelha Jataí”, relata.

Ele comenta que, pelo manejo ser diferenciado, o trabalho é melindroso, exigindo mais dedicação e conhecimento. “Entre as vantagens estão não usar equipamentos de proteção, uma vez que são abelhas calmas e que tudo o que se faz na colmeia elas respondem em mel. O enxame não precisa ser distante de casa ou de animais e qualquer pessoa pode lidar. A desvantagem talvez seja a produção de mel, que não é grande. Outra questão é que no Oeste há uso intensivo de agrotóxicos devido à agricultura, e os agrotóxicos são o principal inimigo das abelhas, então observamos grande mortandade”, salienta.

De acordo com Schneider, o mercado está em franca ascensão por se tratar de um mel mais nutritivo, medicinal e saboroso, sendo considerado o mel nativo do Brasil. “Precisamos trabalhar mais o consumo de mel mostrando a importância das abelhas e do trabalho dos apicultores e meliponicultores. A sociedade deve entender que precisa proteger as abelhas para mais pessoas consumirem este mel de abelha sem ferrão. Mel previne e cura muitas doenças e é motivo de estudos intensos, agora na pandemia (do coronavírus) o mel em geral é motivo de muito estudo, agrega valor e qualidade a quem consome”, enfatiza.

CUIDADOS

O presidente da Coofamel sugere à população cuidar das abelhas, principalmente as sem ferrão, por serem mais delicadas do que as demais. “Pedimos para os agricultores cuidarem na hora de usar inseticida e veneno, pois causam danos às abelhas. Também sugerimos que cada propriedade rural adote abelha, cultive plantas que florescem o ano inteiro para as abelhas terem onde se alimentar, buscar néctar e pólen. Nas cidades e nas casas podem ser plantadas flores e árvores com flores intensas, o que ajuda no embelezamento e os apicultores e meliponicultores podem aumentar a produtividade de mel e quantidade abelhas”, finaliza Schneider.

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